Tiradentes e a Inconfidência Mineira: Liberdade entre serras, fazendas e correntes
Por Paulo Victor - 28 May, 2025

Tiradentes e a Inconfidência Mineira: Liberdade entre serras, fazendas e correntes

 

Em meio às serras ondulantes de Minas Gerais do século XVIII, entre estradas de terra batida, igrejas barrocas e fazendas ricas em ouro, forjou-se uma das mais emblemáticas revoltas do período colonial: a Inconfidência Mineira. Mais que um simples levante, foi o prenúncio de uma nação que ansiava por liberdade antes mesmo de saber o que isso significava plenamente. No coração desse movimento estava um nome que se tornaria símbolo da luta e do sacrifício: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

O cenário: Minas Gerais colonial

A região das Minas Gerais, no final do século XVIII, era uma terra de contrastes: riqueza e miséria, luxo e opressão. A mineração do ouro havia transformado vilas em centros movimentados como Vila Rica (hoje Ouro Preto), São João del-Rei e Tiradentes, dando origem a uma elite urbana e rural poderosa. Muitos proprietários de fazendas enriqueceram com o fornecimento de gêneros para as minas e com a exploração de mão de obra escravizada.

Mas com o tempo, o ouro começou a escassear. A Coroa portuguesa, pressionada por suas próprias dificuldades financeiras, aumentou os impostos sobre a colônia. A mais temida dessas cobranças era a derrama — uma cobrança forçada que visava completar a cota anual de ouro exigida pela Coroa, mesmo que isso significasse confiscar os bens dos colonos.

Nesse contexto, um grupo de intelectuais, militares, padres, poetas e fazendeiros — muitos deles ligados diretamente às grandes propriedades rurais — começou a articular uma ruptura com Portugal.

Quem foi Tiradentes?

Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, era alferes (cargo militar subalterno) da cavalaria dos dragões da capitania de Minas. Além disso, atuava como dentista, tropeiro e comerciante — de onde veio seu apelido. Era um homem do povo, de origem modesta, sem a formação acadêmica dos outros inconfidentes, mas profundamente movido por ideias de liberdade.

Inspirado pelos ideais iluministas vindos da Europa e pela recente Independência dos Estados Unidos, Tiradentes se envolveu profundamente na conspiração que visava criar uma república independente em Minas Gerais, com capital em São João del-Rei ou Vila Rica.

Ao contrário de muitos de seus companheiros, que recuaram diante da ameaça da repressão, Tiradentes assumiu total responsabilidade pela revolta, mesmo sabendo o destino que o aguardava.

A conspiração e a traição

A Inconfidência foi organizada em segredo, mas não resistiu à traição. Joaquim Silvério dos Reis, um dos envolvidos, denunciou os conspiradores em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa.

A repressão foi rápida e brutal. Os inconfidentes foram presos, interrogados e enviados para o Rio de Janeiro, onde passaram por longos processos de julgamento.

Em 1792, a sentença foi proferida. Enquanto os nobres e padres tiveram suas penas comutadas, Tiradentes foi condenado à morte por enforcamento — a única execução pública entre os envolvidos.

Seu corpo foi esquartejado e partes dele expostas pelos caminhos de Minas, como sinal de advertência. A casa onde vivia foi destruída e salgada, para que nada mais brotasse daquele solo. Um símbolo do que acontecia com quem ousasse desafiar o Império.

Herança e memória

Por muitos anos, Tiradentes foi quase esquecido pela história oficial. Mas no final do século XIX, com a Proclamação da República, seu nome foi resgatado como herói nacional — o mártir da liberdade. Sua imagem passou a ser comparada à de Jesus Cristo, em uma tentativa de criar um símbolo moral e republicano que unisse a nova nação.

Hoje, fazendas antigas, igrejas, estradas reais e vilas coloniais preservam os ecos dessa época. Muitas propriedades rurais da Zona da Mata, do Campo das Vertentes e do antigo Caminho Novo foram testemunhas silenciosas de reuniões conspiratórias, de transporte de cartas secretas e até de abrigo a inconfidentes.

➤ Se você visita uma fazenda setecentista em Minas Gerais, com suas senzalas de pedra, seus oratórios, seus caminhos de tropeiros, talvez esteja pisando nos mesmos solos que viram passar Tiradentes e seus companheiros.

Foto de confidência


Tiradentes morreu, mas a pergunta que o moveu ainda ecoa: o que é liberdade?


 

Se você ama essa parte da história brasileira e quer conhecer mais sobre as fazendas que guardam essas memórias, comente Liberdade aqui embaixo.
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